segunda-feira, 18 de maio de 2009

"Lieberman é fascista e rascista"

"Lieberman é fascista e rascista"

13/02/2009 - 20h59
Fortalecimento de partido ultradireitista causa temor em Israel

GUILA FLINT
da BBC Brasil, em Tel Aviv
O fortalecimento do partido Yisrael Beiteinu, que nas eleições realizadas na última terça-feira tornou-se o terceiro maior partido de Israel e adquiriu poder suficiente para determinar a formação da nova coalizão governamental, provocou o temor de um radicalismo no país.

Políticos e intelectuais ouvidos pela BBC Brasil chegaram a usar a palavra "fascista" para descrever o líder do partido, Avigdor Lieberman, e afirmaram que suas posições são "racistas e ameaçam o futuro da democracia israelense".

Para Shulamit Aloni, 80, que lutou na guerra de 1948 pela criação de Israel, fundou o partido social democrata Meretz e foi ministra da Educação no governo de Itzhak Rabin, a força adquirida por Lieberman é um "pesadelo".

"O resultado das eleições me deixaram com raiva, medo e vergonha, ao ver que um fascista e racista como Lieberman tem as chaves para a composição do novo governo", disse Aloni à BBC Brasil.

"Em 1948, eu lutei para construir um país democrático, com igualdade de direitos para todos os cidadãos. É como um pesadelo para mim ver que um discurso fascista como o de Mussolini passa a ter tanta legitimidade no nosso mapa político".

"Ódio aos árabes"

Em um editorial recente, o jornal "Haaretz" diz que os principais candidatos ao cargo de primeiro-ministro de Israel, Tzipi Livni e Byniamin Netaniahu,"têm a obrigação de se distanciar o quanto antes de Lieberman e de suas palavras de ordem, senão terão que arcar com a responsabilidade da consolidação de uma política racista e perigosa em Israel".

Para o sociólogo Lev Grinberg, da Universidade Ben Gurion, "Lieberman baseou toda a sua campanha em sentimentos de medo e ódio aos árabes, e foi favorecido pelo clima de guerra que se criou em Israel durante a recente ofensiva à faixa de Gaza".
"Como um fascista clássico, ele se aproveitou dos medos da população e incentivou o ódio", disse Grinberg.

Em uma entrevista ao jornal "Haaretz", Avigdor Lieberman disse que pretende cancelar a cidadania de israelenses que não forem "féis ao Estado, inclusive ao hino, à bandeira e à sua identidade judaica e sionista".

O lema principal de sua campanha eleitoral foi "sem fidelidade não há cidadania" e Lieberman também propôs expulsar do Parlamento os deputados árabes que forem "infiéis".

A mudança da lei da cidadania será uma das condições para a participação do Israel Beiteinu na nova coalizão governamental.

A solução proposta por Lieberman para o conflito entre israelenses e palestinos é a "troca de territórios e populações", sendo que as aldeias árabes de Israel, com os cidadãos árabes que representam 20% da população do país, seriam "transferidas" para o Estado palestino e os assentamentos israelenses nos territórios ocupados seriam anexados a Israel.

"Palavras vazias"


Mas o discurso do partido para a imprensa estrangeira soa mais brando e razoável. Dany Ayalon, número 7 na lista do Yisrael Beiteinu e ex-embaixador de Israel nos Estados Unidos, rejeita as acusações de "racismo e fascismo" contra o partido.

"Eles (da esquerda) começaram a lançar palavras vazias no ar quando perceberam que estavam se enfraquecendo e nós estávamos crescendo", disse Ayalon à BBC Brasil.

"Tudo o que queremos é um mínimo de solidariedade entre os cidadãos e o Estado, sem diferença entre cidadãos árabes e judeus. O que não pode ser é que cidadãos israelenses façam parte de organizações que querem exterminar Israel", concluiu Ayalon.

Um dos líderes da colonização israelense na Cisjordânia, Pinhas Valerstein, afirmou que "graças a Lieberman não vai haver um Estado Palestino".

"Nestas eleições, o povo de Israel expressou sua opinião de forma muito clara, que entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo só pode haver o Estado de Israel, e agora vão terminar as restrições aos assentamentos na Judeia e Samaria (nome bíblico para a Cisjordânia)".
Atenção
O partido Yisrael Beiteinu (Israel é nosso lar) obteve 15 das 120 cadeiras do Parlamento, atrás do partido governista Kadima, que conseguiu 28 assentos e do direitista Likud, com 27. Ele também superou o Partido Trabalhista, fundador do Estado de Israel, que ficou com 13 cadeiras.
Com isso, toda a atenção se voltou para Lieberman, que poderá definir quem será o próximo primeiro-ministro de Israel e qual será a linha política da nova coalizão governamental.
Sem contar as 15 cadeiras de Lieberman haveria um empate entre o bloco de partidos de centro-esquerda, que obteve 50 cadeiras, e o bloco da direita, extrema-direita e ultra-ortodoxos, que conquistou exatamente o mesmo número.
Nos últimos dias, tanto Tzipi Livni, líder do Kadima, como Byniamin Netaniahu, do Likud, se encontraram com Lieberman e pediram sua recomendação junto ao presidente Shimon Peres, para que os nomeie como líderes da futura coalizão governamental.
A recomendação de Lieberman pode ter uma influência crítica sobre a decisão do presidente, pois ele deverá nomear o candidato que tenha as maiores chances de receber o apoio de pelo menos 61 parlamentares.
O Israel Beiteinu tinha apenas 4 cadeiras no Parlamento quando foi fundado, em 1999.
Nas próximas eleições, Lieberman diz que vai conquistar 30 cadeiras e se tornar o líder do governo.
Segundo analistas, até hoje, ele nunca errou nas avaliações de quantos votos iria receber.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u503841.shtml

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